Mal terminaram as festividades de fim de ano, todo mundo começa a pensar no carnaval. Os não crentes vibram pela expectativa da folia; os evangélicos – virou tradição – programam-se para fazer retiro. Quando acaba a folia e os evangélicos regressam, restam apenas cinzas: as literais, na testa dos católicos, e as sobras de desespero e frustração, vagueando ainda pelas calçadas. Hora boa para evangelizar, diriam os recém-saídos da farta mesa espiritual servida em algum lugar escondido neste mundo de Deus. E lá vão eles, abordando uns poucos aflitos. Todavia, imagino se esta é a melhor estratégia.
Pessoas frustradas e desesperadas são acessíveis a qualquer mensagem de conforto, muito mais à pregação do Evangelho. Retiros espirituais fazem bem ao espírito, alma e corpo. Parece a fórmula perfeita para conquistar almas: evangelistas com as energias renovadas empenhando-se em resgatar pecadores já no limite de suas forças. Isto, presumindo ser esta a intenção dos retiros de carnaval. Mesmo assim, meu questionamento é se não estamos perdendo a melhor parte.
Certa vez ouvi o testemunho de uma irmã cuja conversão ocorrera num carnaval. Ela desfilava num bloco, e a igreja da rua onde passavam não haviam fechado as portas naquele dia. Houve culto normal, apesar de os crentes estarem conscientes do incômodo da passagem dos blocos na frente da igreja. A barulheira infernal e o perigo de agressão por parte de algum folião mais exaltado não assustaram os irmãos. E, ao passar pela frente da igreja, ela não resistiu a um chamado do Espírito Santo. O bloco seguiu sem ela.
Oportunidade de ouro
Talvez, inconscientemente, estejamos pensando serem aqueles poucos desesperados os que não experimentaram a alegria no carnaval. Mas, fosse assim, teríamos de admitir: muitas pessoas encontram satisfação para a alma no carnaval, pois resta apenas uma minoria nas calçadas e boa parte deles estaria apenas exausta. Costumamos pregar sobre a falsa alegria dos foliões. Por conseguinte, concluímos haver muita falsa alegria onde haja grande número de foliões. E, assim sendo, esta seara é a mais promissora. Talvez estejamos, com nossos retiros de carnaval, violando um dos princípios de Eclesiastes, afastando-nos do tempo de abraçar.
O carnaval é uma oportunidade de ouro para a evangelização. Não devemos conformar-nos à função de catadores de cinzas. A esta altura, teremos perdido a chance de evitar alguns danos irreparáveis: um casamento desfeito, um ato de loucura ou o nefasto HIV a circular nas veias.
Não poucos consideram a festa do rei Momo um campo de batalha espiritual. E, se a igreja também a imagina dessa forma e ainda assim se afasta, tem-se uma batalha onde um dos exércitos não compareceu. Deve a igreja ocupar tempo em preparar-se, mas a conquista só acontece no terreno do inimigo. Um amigo meu, certa vez, escreveu num artigo: “Não foram apenas os quarentas dias de jejum que silenciaram a satanás, mas também três respostas…” Cristo saiu-se vencedor no espetacular duelo com o inimigo porque o enfrentou, naturalmente, e no momento certo.
Tenha a igreja preparação, disposição e sabedoria para escolher o campo e o tempo de lutar.
Para não acontecer de encontrar apenas cinzas.
• Judson Canto-Mensageiro da Paz (CPAD)
Fevereiro de 1996 página 05